Essa taça de metal dourado,
gravada com detalhes barrocos, foi produzida na metalúrgica Eberle, em Caxias do Sul. Entre o final dos anos 50 e o início dos anos 60, quando a família passava férias na casa de Canela, o pai costumava nos levar para visitar a Eberle em Caxias.
As compras eram, quase sempre, à vontade. A ligação do pai com a Eberle (a Tramontina daquela época) se dava por meio de uma paciente, Dona Léa, que ele tratava para psoríase, devidamente controlada por ele. O fato de ela ter o mesmo nome da minha mãe e de manter uma ótima relação com o meu pai sempre me intrigou — ou ainda me intriga. Sobre o alto edifício que abrigava a fábrica e a loja, repousava a casa de madeira original da Eberle. Era quase como uma cena surrealista. Lá, comprávamos talheres e uma enorme variedade de itens para a casa. O Zeca, sempre fascinado por canivetes e ferramentas, lançava olhares languidos — e sempre ganhava um. Essas taças, em particular, são curiosas.
Tenho duas, o Carlos tem oito outras.
Hoje, além de estarem fora de moda, acrescentam um gosto metálico ao vinho que o torna quase intragável. Mas há uma memória que me prende a elas. Certa vez, eu e o Zeca, ao lado da geladeira, no canto da mesa da copa — aquela mesa coberta com um plástico meio grudento para evitar trocar a toalha com frequência —, dividimos um “Chateau Duvalier”. Conversávamos tranquilamente sobre sei lá o quê. Aquele momento ficou comigo. Gravado na memória e também no objeto, que se tornou um objeto de memória.Conquiste seu espaço.
Tonho, janeiro 2025