O Microscópio Leitz

O microscópio Leits 1929

1935 - Dr. José Gerbase e seu microscópio Leits 1929

Em 2021, após restaurar alguns binóculos, tive coragem de encarar um desafio muito maior e de grande valor afetivo: o microscópio que meu pai, Dr. José Gerbase, utilizou entre as décadas de 1930 e 1960.

A história desse microscópio é um pouco longa, mas vamos lá.

Durante seu curso de especialização em dermatologia, realizado no Rio de Janeiro, meu pai adquiriu um microscópio da marca Leitz, fabricado em 1929. Em 1932, ele decidiu visitar o Rio Grande do Sul, onde acabou se estabelecendo.

Em Porto Alegre, Dr. Gerbase tornou-se o dermatologista pioneiro na formação de jovens especialistas, inaugurando o Curso Equiparado de Clínica Dermato-Sifiligráfica a partir de 1942, que era sediado na Enfermaria 3, a qual chefiava na Santa Casa de Misericórdia. Esta enfermaria era sua grande paixão profissional, e ele também se envolveu em atividades de gestão na instituição.

No escritório e laboratório da Enfermaria 3, estava o microscópio Leitz, que ele usava para análises e pesquisas. O tempo passou, e Dr. Gerbase casou-se com D. Léa, com quem teve seis filhos, três dos quais se tornaram médicos. Eu segui o caminho da engenharia.

Na década de 1960, um programa familiar praticamente se tornou uma obrigação: ir à missa na capela da Santa Casa e, em seguida, visitar a Enfermaria 3. Reunir os seis filhos, pentear as crianças e espremê-las no carro não era uma tarefa fácil. Durante a missa, D. Léa se esforçava para manter os filhos tranquilos enquanto Dr. Gerbase ajudava no serviço religioso.

Após a missa, a visita à Enfermaria, que abrigava cerca de 50 leitos femininos, se tornava uma experiência que mesclava terror e descobertas científicas. Muitas pacientes carentes permaneciam na enfermaria por longos períodos, pois não tinham para onde ir, e suas doenças eram prolongadas propositadamente. Algumas se integravam à equipe de enfermagem ao longo do tempo.

Entrar na enfermaria era intimidador, com seu odor característico e os leitos à vista; eu tentava não olhar para os lados, focando apenas em chegar ao laboratório. Em datas especiais, como Páscoa e Natal, a situação se tornava ainda mais complicada, com todos internados cantando e trocando homenagens e abraços.

Depois de superar essas etapas , chegava-se ao escritório, laboratório e sala de exames. Ali, instrumentos como bisturis elétricos, gelo seco para queimar verrugas e o famoso microscópio eram apresentados aos mais curiosos e destemidos. As imagens, odores e sons daqueles momentos ficaram indeléveis em nossa memória.

Na década de 1970, o microscópio foi levado para casa, onde continuou a ser utilizado pelos filhos para explorar paramécios e outros micro-mundos.

Depois de restaurado em 2021, com as peças faltantes adquiridas pelo mundo, ele permanece feliz, com suas marcas do tempo, mas com sua mecânica e ótica impecáveis. Fabricado pela renomada Leitz, em Wetzlar, na Alemanha, este microscópio faz parte de uma rica história de evolução tecnológica que começou em 1851, com a fabricação do primeiro microscópio Leitz.

Este exemplar possui seu número de série gravado, e, ao pesquisar na internet, descobri que foi fabricado em 1929. A precisão de sua mecânica, elaborada em máquinas manuais, estabeleceu a base tecnológica para numerosos instrumentos ópticos que ainda são produzidos hoje.

Texto: Luiz

Restauração: Magus

As fotos abaixo foram feitas durante sua restauração. Um vídeo pode ser visto clicando no botão da seção acima.

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